A queda de cabelo durante o tratamento oncológico é um dos eventos adversos que mais causam medo e ansiedade no paciente. Alguns cuidados são fundamentais para manter a saúde do couro cabeludo e favorecer o crescimento dos cabelos.
Os cabelos possuem características além da estética, ele é parte fundamental para autoestima, pois evidencia a personalidade, identidade, estilo de vida e, muitas vezes, o humor de cada pessoa.1
Para muitas pessoas, a queda de cabelo está associada aos pacientes em tratamento oncológico. Essa associação entre a alopecia (termo médico para queda de cabelos) e os pacientes em tratamento de câncer contribui para aumentar o estigma e preconceito relacionados à temática.1
Por isso, conversar com a equipe multidisciplinar, responsável por acompanhar o tratamento do câncer, é fundamental para esclarecer preocupações, além de preparar o paciente para a possibilidade de queda de cabelo.1
Os agentes quimioterápicos citotóxicos (que causam toxicidade às células) são medicamentos que afetam a proliferação das células cancerígenas. Entretanto, outras células em desenvolvimento normal e aumentado, como as da matriz do cabelo, também são atacadas.1
Os folículos pilosos, estruturas da pele responsáveis pela produção dos pelos, estão presentes nas raízes dos cabelos e, assim, favorecem a produção deles. Quando estão na fase ativa de crescimento, chamada fase anágena, as células do folículo piloso dividem-se a cada 23 a 72 horas.1
Como evento adverso da quimioterapia, ocorre a interrupção do ciclo capilar normal durante a fase anágena. Consequentemente, há indução da morte celular das células do couro cabeludo, com afinamento dos fios, quebra e queda dos cabelos.1
Além disso, a quimioterapia pode causar queda de pelos em outras áreas do corpo - não restringindo ao couro cabeludo - como cílios, sobrancelhas, axilas e região pubiana.1
Porém, nem sempre o paciente que vai fazer quimioterapia vai sofrer a perda total dos cabelos. O volume e a frequência da queda capilar são influenciados por diversos parâmetros como: tipo de droga quimioterápica utilizada no tratamento, dosagem da medicação, combinação entre os medicamentos, tempo de tratamento e características pessoais.1
Geralmente, o cabelo começa a cair a partir de uma a quatro semanas após o início do tratamento. O paciente notará cabelos soltos no travesseiro, na escova de pentear, ralos de chuveiro ou pia.1,2
A queda de cabelo continuará durante o tratamento e por algumas semanas depois do seu término. É possível que ocorra a queda completa ou apenas parcial e, em alguns casos, ocorre o afinamento dos fios.1,2
Felizmente, na maioria das vezes, a queda de cabelo causada pela quimioterapia é temporária. Você pode esperar um novo crescimento do cabelo de três a seis meses após o término do tratamento. É comum que os novos fios de cabelo surjam com uma tonalidade ou textura diferente.1
É muito importante que pacientes e equipe oncológica conversem sobre o tratamento quimioterápico proposto. A evidência da queda capilar pode ser um momento difícil para muitas pessoas em tratamento do câncer e, por isso, preparar-se é fundamental.1,2
Não existem métodos que garantam que a alopecia não seja desenvolvida nos pacientes em tratamento quimioterápico, entretanto, com os atuais avanços da Medicina Oncológica, algumas alternativas podem reduzir a queda e manter a saúde do couro cabeludo.3,4
Também chamado de scalp cooling, a técnica consiste em resfriar o couro cabeludo durante as sessões de quimioterapia. No Brasil, existem disponíveis diferentes meios para isso, como um equipamento que resfria um líquido que passa por uma touca acoplada à cabeça do paciente, outro aparelho que resfria o ar que vai a um capacete e toucas refrigeradas de criogel. Com o resfriamento, as drogas quimioterápicas têm menor probabilidade de afetar o cabelo.4
Resfriar o couro cabeludo a baixas temperaturas induz a vasoconstrição e reduz o metabolismo folicular com diminuição da absorção do medicamento pelas células do pelo, responsáveis pela produção dos cabelos. Assim, há uma preservação total ou parcial dessas estruturas com redução do dano dos medicamentos nessa região.4
Vale lembrar que os resultados dependem de diferentes parâmetros, sendo muito importante o tipo de quimioterápico, sua dose e sua combinação com outros agentes. O scalp cooling é indicado para pacientes com tumores sólidos, como o câncer de mama, e, em estadiamento inicial.4
Além disso, esse método pode trazer alguns eventos adversos como, dores de cabeça, náusea e, em alguns casos, tonturas.4
O minoxidil é uma substância ativa que estimula o crescimento capilar e prolonga a fase anágena, que é a fase de crescimento do cabelo. É muito usado no tratamento da calvície masculina e em algumas causas de queda de cabelo na mulher. Pode também ser recomendado para falhas em regiões do corpo onde nascem pelos.2,5
Em pacientes oncológicos, a loção de minoxidil pode ser aplicada no couro cabeludo ao final da quimioterapia para acelerar o crescimento dos cabelos. Seu uso durante a quimioterapia não previne a alopecia.2,5
Mesmo que o minoxidil venha sendo usado há vários anos para estimular o crescimento dos cabelos em pacientes com alopecia, seu mecanismo de ação não está totalmente elucidado no tratamento da alopecia do paciente com câncer.5
Por isso, é sempre indicado que os pacientes em tratamento com quimioterapia tenham orientação médica sobre o uso dessa medicação.5
Indicado para o tratamento do glaucoma, o colírio de bimatoprosta se popularizou por acelerar o crescimento dos cílios, quando aplicado na base dos cílios. Entretanto, esse medicamento pode causar hipersensibilidade e diminuição da pressão intraocular. Por isso, seu uso deve ser orientado e prescrito pelo médico.6
Nesse método, o paciente faz uso de um capacete ou boné que emite uma fonte luminosa com frequência específica e de baixa potência. As luzes causam dilatação dos vasos sanguíneos do couro cabeludo, aumentando a entrada de nutrientes nas células capilares e maior produção de energia nas células do couro cabeludo, com benefício no crescimento capilar.7
Por ser um processo de vasodilatação, sugere-se que a fotobiomodulação seja iniciada ao final do tratamento quimioterápico. Supõe-se que, se utilizada durante o tratamento, os pelos possam ser mais afetados, pela maior possibilidade de absorção dos quimioterápicas pelas células do pelo.7
Seja como for a sua queda de cabelo, alguns cuidados são fundamentais para garantir a saúde do couro cabeludo. Hábitos rotineiros minimizam a frustração e a ansiedade associadas à queda. Caso esteja em tratamento ou venha a iniciá-lo, atente-se para algumas práticas antes, durante e após a quimioterapia.1,2
Cuide do seu cabelo: é muito importante que antes de iniciar o tratamento de câncer o paciente não agrida o cabelo e o couro cabeludo. Por isso, evite colorações, descolorantes e outros métodos, como alisamento, botox capilar e progressiva.1,2
Outra dica é deixar que os cabelos sequem naturalmente, evitando o aquecimento do couro cabeludo com secadores e outros aparelhos. Prefira alternativas para fortalecê-los. Converse com seu médico e busque indicações de produtos capazes de restaurar os fios. Não utilize qualquer produto sem antes consultar um profissional especializado.1,2
Mude o visual: alguns pacientes consideram cortar os cabelos. Quando curto, ele tende a parecer mais cheio do que quando comprido e quando sofrer a queda de cabelo, eles serão menos percebidos ao seu redor. Além disso, se você tem cabelo comprido, cortá-los ajuda em uma melhor transição para a perda total, caso ocorra.1,2
Perucas e adereços: se você é adepto à mudança, comece a pensar em perucas, lenços ou outras coberturas para a cabeça. A transformação visual com esses acessórios pode elevar a autoestima. Hoje, já é possível que o médico prescreva uma receita para utilização de perucas, cujo custo pode ser coberto pelo seu seguro de saúde.1,2
Outra alternativa é buscar centros de acolhimento para pacientes com câncer. Muitos deles, oferecem, gratuitamente, perucas e acessórios, além de serem ótimos locais para compartilhar experiências.1,2
Proteja seu couro cabeludo: ao lavar o cabelo, faça um manejo cuidadoso, sem agredir a superfície da cabeça e evite lavar em excesso. Utilize toalhas macias para secagem, com movimentos suaves. Prefira escovas de pentear com pontas macias ou pentes de dentes largos.1,2,7
Ao dormir, uma dica é usar um travesseiro com fronha de cetim, pois esse tipo de tecido diminui a fricção entre o couro cabeludo e a superfície, reduzindo o incômodo para dormir.1,2
Shampoos e condicionadores: a escolha desses produtos é fundamental para os pacientes em quimioterapia. Busque aqueles dermatologicamente testados e hipoalergênicos. Atualmente, existem produtos especialmente formulados para pessoas em tratamento quimioterápico. Geralmente, a formulação contém um pH balanceado ajustado para as necessidades dos pacientes.1,2
Fotoproteção: evite a exposição ao sol. Nesses casos, a fotoproteção pode ser feita com uso de toucas, chapéus e lenços. O couro cabeludo pode ficar sensível durante o tratamento, passível de irritação.1,2
Lembre-se de usar filtros solares, mesmo em dias de baixa incidência solar. Porque o couro cabeludo está fragilizado durante o tratamento quimioterápico.
Vale lembrar que o dermatologista é o profissional mais indicado para lhe dar várias orientações sobre os cuidados com a pele, os cabelos e as unhas durante o tratamento oncológico.1,2
Tenha paciência: o couro cabeludo bem como os folículos capilares estão fragilizados pela quimioterapia. Mantenha a calma e siga as orientações de seu médico.1,2
É provável que os novos fios surjam com características diferentes das anteriores ao tratamento. A quimioterapia altera as células que dão origem aos cabelos, assim, quando os fios voltam a crescer, eles podem crescer em ciclos diferentes, mais finos ou mais grossos, mais claros ou com a cor normal, ou mais encaracolados.1,2
Além disso, também pode ocorrer uma redução da espessura da fibra capilar e da densidade de cabelos. A tendência é que algumas dessas alterações capilares sejam passageiras.
É fundamental manter os cuidados com os fios e evitar qualquer método que possa danificá-los. É preciso um tempo para reparar os danos da quimioterapia. Caso, após 6 meses do término do tratamento quimioterápico, você perceba que os cabelos não voltaram no volume de antes, consulte um dermatologista para orientação e tratamento.1,2
Hidratação capilar: logo que os primeiros fios nasçam, converse com seu médico sobre os métodos que você pode utilizar para hidratá-los. Atualmente, alguns produtos de beleza são recomendados para esse período, ajudando no fortalecimento dos fios e hidratação.1,2
Mantenha uma alimentação balanceada: alimentos saudáveis e específicos irão fornecer os nutrientes necessários para ajudar no crescimento do cabelo e acelerar a recuperação do organismo após a quimioterapia. Por isso, com a orientação do nutricionista, alinhe uma dieta rica em frutas, verduras, alimentos integrais, proteínas e gorduras saudáveis, como a do azeite, e grãos, como linhaça e chia. Lembre-se que beber água ajuda a manter a hidratação da pele e do couro cabeludo.1,2
Esse tratamento oncológico é direcionado a uma área específica do corpo, onde a radiação é concentrada. Porém, outros órgãos vizinhos podem ser atingidos. A depender da intensidade da radioterapia, quando feita na cabeça, existe chance de queda de cabelo localizada.8
Os cabelos podem crescer após o término do tratamento e as características anteriores podem ser afetadas.8
Na radioterapia, doses mais altas de radiação influenciam na incidência da alopecia e na capacidade de recuperação dos cabelos da área irradiada, podendo ocorrer alopecia permanente. É importante conversar com seu médico sobre os riscos de queda de cabelo com a radioterapia para você se programar melhor.8
Sejam quais forem os eventos adversos provocados pelo tratamento oncológico, mantenha sua autoestima praticando o autocuidado. Hábitos como os descritos acima favorecem o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes.
Esteja sempre em contato com seu médico. Para a maior parte dos pacientes, as alterações capilares serão temporárias. Para aqueles que lidam com alterações persistentes, a dermatologia, medidas cosméticas e de disfarce estarão disponíveis para lhes possibilitar uma melhor autoestima. Pratique hábitos saudáveis e conheça os benefícios de uma rotina de cuidado com o próprio corpo.
Revisora Científica: Dra. Giselle Barros - CRM/SP 126424.
Referências
Quais são os direitos do paciente que vive com câncer?
Os pacientes que vivem com câncer classificado como neoplasia maligna têm direito a tratamento e locomoção gratuita, além de isenção de alguns impostos e outros benefícios previstos em lei.
Quais são os efeitos colaterais do tratamento do câncer?
O paciente diagnosticado com câncer pode apresentar uma série de sintomas causados pela doença e, além disso, pode sofrer alguns efeitos colaterais por conta da medicação oncológica...
Telemedicina e oncologia: quais os benefícios?
A telemedicina pode facilitar o acompanhamento de pacientes oncológicos à distância, seja por questões relacionadas a limitações de deslocamento, falta de tempo ou maior...
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