O que é crioterapia de couro cabeludo?

mulher utilizando a técnica de crioterapia do couro cabeludo durante o tratamento quimioterápico.
Créditos: Divulgação Einstein.

A queda de cabelo é um dos eventos adversos mais desagradáveis associados ao tratamento do câncer por quimioterapia, pois, além das alterações físicas causa distúrbios emocionais relacionados à autoestima. Neste sentido, a crioterapia de couro cabeludo pode ser uma opção durante o tratamento quimioterápico.1

Receber o diagnóstico de câncer não é tão simples. Com a notícia, diversas preocupações acabam surgindo, entre elas o tratamento e a cura. Geralmente, a doença afeta diretamente a autoestima da pessoa, pois algumas alterações físicas decorrentes do tratamento quimioterápico podem impactar a visão que o paciente tem de si mesmo.1

Neste contexto, o cabelo está entre os pontos mais marcantes para os pacientes, pois muitos deles acabam perdendo os fios durante o tratamento com quimioterapia. Para a mulher, a perda dos cabelos está diretamente ligada ao universo da feminilidade e sexualidade.1

É muito comum algumas mulheres não se reconhecerem no espelho e, assim, as emoções negativas acabam tomando conta do momento. Com isso, a psicoterapia, aliada a algumas opções de disfarce da alopecia, podem minimizar os efeitos da queda de cabelo.1

Impactos da perda de cabelos durante o tratamento quimioterápico

A alopecia (queda de cabelo) induzida por quimioterapia (AIQ) é um evento adverso comum e estressante associado à quimioterapia. Geralmente, começa entre a primeira e terceira semana após o primeiro ciclo de quimioterapia, sendo agravada após os ciclos subsequentes.2

Felizmente, a alopecia induzida por quimioterapia é recuperada espontaneamente após 3 a 6 meses do término do tratamento, na maioria dos casos. Poucos pacientes sofrem queda permanente de cabelos e uma parte pode sofrer mudanças na cor, textura e ondulação do cabelo.2

A ocorrência e a gravidade da queda de cabelos durante a quimioterapia dependem do tipo e dose do quimioterápico, esquema de administração e outros protocolos utilizados durante o tratamento, além de questões individuais de cada paciente.2

A queda de cabelo ocorre porque vários medicamentos utilizados na quimioterapia afetam as células que se proliferam rapidamente e, consequentemente, danificam não apenas as células tumorais, mas também os folículos pilosos anágenos, estruturas responsáveis pelo nascimento dos fios e que estão em fase ativa de crescimento.2

O medo da perda de cabelo e o sofrimento associado a esse evento podem até resultar em pacientes com câncer recusando o tratamento quimioterápico adequado. Atualmente, algumas alternativas incorporaram-se para minimizar os impactos da alopecia induzida por quimioterapia, entre elas a crioterapia de couro cabeludo.2

Como funciona a crioterapia de couro cabeludo na quimioterapia?

O resfriamento (crioterapia) do couro cabeludo para prevenção da alopecia induzida por quimioterapia apresenta resultados científicos positivos publicados recentemente.3,4

A prática vem sendo utilizada desde a década de 1970, com adoção precoce na Europa, mas absorção lenta nos Estados Unidos. No Brasil, algumas instituições de saúde já incluíram a técnica nos protocolos de tratamento do câncer.3,4

O resfriamento do couro cabeludo pode ser feito com toucas de criogel, que requerem ser mantidas a baixas temperaturas, sendo aplicadas no couro cabeludo do paciente durante as sessões de quimioterapia. Mudanças frequentes de toucas durante a sessão são necessárias para manter o couro cabeludo sob baixa temperatura por todo o tempo de infusão do quimioterápico, e por um tempo depois.3,4

Existem, ainda, sistemas automáticos de resfriamento, que consistem em um resfriamento bem ajustado com uma touca conectada a um dispositivo por onde circula o líquido refrigerante e, assim, esfria permanentemente o couro cabeludo durante todo o processo, mantendo uma temperatura definida durante o tratamento.3,4

Como funciona a touca de resfriamento?

mulher utilizando touca de resfriamento durante o tratamento quimioterápico.
Créditos: Divulgação Einstein.

O mecanismo de resfriamento do couro cabeludo, pelo qual auxilia na diminuição da alopecia relacionada à quimioterapia, é explicado da seguinte forma:3

As baixas temperaturas de exposição da touca de resfriamento causam vasoconstrição, ou seja, estreitamento dos vasos sanguíneos. Como resultado disso, ocorre a diminuição do fluxo sanguíneo para os folículos pilosos durante a infusão quimioterápica, reduzindo a captação nos folículos pilosos dos medicamentos utilizados na quimioterapia.3

Uma vez que os medicamentos não são absorvidos pelos folículos pilosos, os danos no couro cabeludo são menores.3

Além disso, a diminuição da atividade bioquímica dos folículos pilosos deixa essas estruturas menos propensas a serem danificados por medicamentos quimioterápicos.3

Por outro lado, é importante destacar que muito se debate se o resfriamento do couro cabeludo pode preservar as células cancerígenas em casos de haver micrometástase no couro cabeludo antes do início do tratamento. No entanto, estudos recentes demostraram que a incidência de metástase no couro cabeludo em pacientes com câncer de mama é muito baixa, independentemente do resfriamento, e que o resfriamento não aumenta seu risco.5

O que dizem os principais estudos sobre a touca de resfriamento?

Como explicado anteriormente, o resfriamento do couro cabeludo pode ser realizado por aparelhos de resfriamento ou por toucas de criogel congeladas. Entretanto, existem algumas questões práticas que precisam ser consideradas pela equipe multidisciplinar ao implementar o uso da tecnologia de resfriamento do couro cabeludo.3

Uma preocupação é como incorporar os períodos de resfriamento do couro cabeludo pré e pós-quimioterapia no fluxo de infusão dos medicamentos. O período de resfriamento pré-quimioterapia pode ocorrer em conjunto com a administração de quaisquer medicamentos pré-quimioterapia necessários. Se isso for feito, não deve haver nenhum tempo adicionado ao período que o paciente passa na sala de infusão.3

Já o período de resfriamento pós-quimioterapia pode ser realizado em uma sala tipo sala de espera, pois os pacientes não necessitam de mais nenhum suporte de enfermagem nesse momento.3

Além disso, a disponibilidade e o custo da crioterapia de couro cabeludo podem ser uma preocupação para muitos pacientes. Muitas vezes, ela não está disponível nas unidades de atendimento ao paciente oncológico do SUS e até mesmo em hospitais particulares. Porém, existem empresas que disponibilizam o dispositivo para aluguel.3

Apesar das considerações quanto à logística e aplicação da crioterapia de couro cabeludo, o resfriamento do couro cabeludo é um método eficaz e, geralmente, bem tolerado para a prevenção da alopecia induzida por quimioterapia, sendo sugerida nos principais protocolos de tratamento de tumores sólidos em estadiamento inicial, como câncer de mama e de ovário.3

paciente oncológica conversando com seu médico.

Cabe ressaltar que a utilização da técnica de resfriamento do couro cabeludo, deve ser realizada sob supervisão médica.3

Os médicos devem estar cientes dos dados disponíveis sobre a preservação do cabelo com resfriamento do couro cabeludo para aconselhar os pacientes sobre a probabilidade de sucesso com os diferentes regimes de quimioterapia.3

Existem outros métodos que podem ser utilizados para tratamento da perda de cabelo durante a quimioterapia, entre eles o uso de medicamentos para crescimento capilar.2

Tem dúvidas sobre outras técnicas utilizadas durante o tratamento oncológico? Acesse os conteúdos do Programa Suavidade para ficar por dentro do universo da Oncologia — diagnóstico, tratamento, cuidados necessários, direito do paciente com câncer e muito mais.

Revisora Científica: Dra. Giselle Barros - CRM/SP 126424.

Referências

  1. Oncoguia. Como o cabelo afeta a autoestima de quem está com câncer Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/como-o-cabelo-afeta-a-autoestima-de-quem-esta-com-cancer/15723/7/. Acesso em: 22 fev. 2023.
  2. SHIN, Hyoseung et al. Efficacy of interventions for prevention of chemotherapy‐induced alopecia: A systematic review and meta‐analysis. International Journal of Cancer, v. 136, n. 5, p. E442-E454, 2015. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ijc.29115. Acesso em: 22 fev. 2023.
  3. KRUSE, Megan; ABRAHAM, Jame. Management of chemotherapy-induced alopecia with scalp cooling. Journal of oncology practice, v. 14, n. 3, p. 149-154, 2018. Disponível em: https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/JOP.17.00038. Acesso em: 22 fev. 2023.
  4. MONTEIRO, Debora Esteves et al. Resultados da crioterapia capilar na redução da Alopecia em pacientes com câncer de mama em tratamento quimioterápico. 2021. Programa de Pós-Graduação em Ciências do Cuidado da Saúde. Universidade Federal Fluminense. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/23393/Debora%20Esteves%20Monteiro.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 22 fev. 2023.
  5. Frontiers. Efficacy of Scalp Cooling in Preventing and Recovering From Chemotherapy-Induced Alopecia in Breast Cancer Patients: The HOPE Study. Disponível em: Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fonc.2019.00733/full?fbclid=IwAR2RGcVEZmVOsdvpagrJnc_rytCtw2bNTFtEoNKeUTQAOuclMfoNj3Px9Fs. Acesso em: 22 fev. 2023.

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